Dados da Albufeira de Alqueva utilizados em estudo sobre os impactos das alterações climáticas nos lagos

Os investigadores do Instituto de Ciências da Terra (ICT), da Universidade de Évora (UÉ), Rui Salgado e Miguel Potes participaram recentemente no artigo científico “A framework for ensemble modelling of climate change impacts on lakes worldwide: the ISIMIP Lake Sector”, publicado na revista “Geoscientific Model Development”, liderado pela investigadora Malgorzata Golub do Departamento de Ecologia e Genética da Universidade de Uppsala, Suécia.

Malgorzata contou com a colaboração de 67 co-autores de 56 instituições, com 10 modelos de lago e com dados de 62 lagos de todo o mundo, incluindo dados da albufeira de Alqueva. O artigo documenta uma a criação da mais completa base de dados global sobre características térmicas de massas de água interior para aplicações em modelação climática. Os investigadores do ICT contribuíram com dados da evolução da temperatura da água da albufeira de Alqueva, o maior reservatório artificial da região mediterrânica, em 14 níveis, desde a superfície até aos 60 metros.

Miguel Potes, investigador do ICT realça que “houve uma campanha de intercomparação em Alqueva para verificar o erro do instrumento que foi para a Antártica em comparação com o nosso instalado em Alqueva” realça, frisando que a Antártica “tem vindo a aumentar a superfície com água líquida devido ao degelo provocado pelo aumento de temperatura do ar”.

Questionado sobre a importância de se determinar melhor a evaporação, o investigador da UÉ, sublinha que “a evaporação dos lagos é significativamente superior a uma superfície de gelo e como os modelos de previsão do tempo, os modelos de clima e as reanálises não estão a ter em conta a superfície como sendo lago está a ser introduzido um erro nos modelos” afirmando que sem este método “obtém-se dados de evaporação subestimados na ordem dos 40-72%”.

Este artigo é fruto do projeto ISIMIP (The Inter-Sectoral Impact Model Intercomparison Project) em que o ICT participa e que oferece uma estrutura para a projecção dos impactos das alterações climáticas nos vários sectores (no nosso caso nos lagos) e a várias escalas espaciais. Uma rede internacional de modeladores dos impactos climáticos contribui para uma compreensiva e consistente imagem do mundo sob cenários de alteração climática diferentes. O trabalho desenvolvido no âmbito do “ISIMIP Lake sector” é na atualidade a referência mundial sobre a influência das alterações climáticas nos lagos naturais e artificiais.   

Os principais resultados deste estudo indicam que as temperaturas simuladas pelos modelos comparam bem com as medidas para os 62 lagos utilizados, durante a fase de calibração dos modelos de lago. Os resultados das simulações indicam um aumento da média anual da temperatura superficial da água em 0.15 °C no período histórico (1976-2005) em relação ao período pré-industrial de controlo (1601-1849). Estas simulações seguem as observações in situ e mostram que os lagos já estão a aquecer em todo o mundo.  Projeções futuras (2006-2099) tendo em conta baixas (RCP2.6), médias (RCP4.5) e altas (RCP8.5) emissões de gases de efeito de estufa indicam estimativas de aquecimento à superfície dos lagos de 1.38, 2.46 e 3.85 °C para o final do século (2070-2099) em relação ao período pré-industrial de controlo.

Publicado em 03.10.2022
Fonte: GabCom | UÉ