Jardim dos Cogumelos: Placa informativa de macrofungos

A Herdade da Mitra da Universidade de Évora (UÉ) é um hotspot de biodiversidade, fruto da sua localização geográfica e das diversas práticas agrosilvopastoris a que esteve sujeita. Muito se sabe sobre a sua Fauna e Flora, mas sobre o Micobiota (nome equivalente aos anteriores para designar o conjunto das espécies do Reino Fungi) a informação é escassa. Para dar a conhecer a colossal riqueza de espécies aqui existentes a UÉ produziu uma placa informativa onde elenca as espécies de macrofungos.

 

A ideia surgiu de Celeste Silva, que desafiou Anabela Belo para a identificação das espécies vegetais, ambas professoras do Departamento de Biologia e investigadoras no Instituto Mediterrâneo para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento (MED), com o objetivo de “partilhar todo este conhecimento e o fascínio que sentimos ao observar estes seres enigmáticos” começa por referir. A placa informativa agora exposta, “elenca as espécies de macrofungos observadas e as suas companheiras vegetais (as espécies arbóreas) e ainda indicações para saber mais sobre os fungos, as plantas e a biodiversidade da Mitra” explica a Bióloga da UÉ especialista em Macrofungos.

Tal como refere, “a natureza críptica dos macrofungos, dos quais muitas vezes só conhecemos os seus “frutos” – vulgarmente denominados cogumelos – dificulta a sua observação e consequentemente o conhecimento das suas populações, ecologia e habitat”. A título de curiosidade, Celeste Silva segreda que, foi no pequeno canteiro onde termina o montado e começa o logradouro da casa 1 do Departamento de Biologia da UÉ, em plena época de pandemia, que muitas espécies de macrofungos do solo se depararam com as condições ideais para frutificar.

“Assistimos aqui a uma explosão de cogumelos” realça a investigadora, onde do Outono de 2020 à Primavera de 2021, mais de 40 espécies de macrofungos produziram cogumelos. E o que fazem aqui estes fungos? Uma pergunta à qual Celeste Silva dá resposta, explicando que “muitas espécies vivem decompondo matéria orgânica (folhas, raminhos, dejetos animais, etc.), outras vivem em íntima associação com as raízes de árvores e arbustos, numa perfeita relação de harmonia entre dois Reinos distantes”.

Celeste Silva, argumenta ainda que “ainda desconhecemos muito do que está debaixo dos nossos pés! Certamente muitos destes macrofungos possuem micélios vastíssimos, que ocupam centenas de metros quadrados, e encontram neste pequeno canteiro o local ideal para frutificar. Outros, de menores dimensões, aproveitam a imensa variedade de substratos a decompor existentes neste pequeno espaço”, um sem número de “mistérios” que os investigadores da UÉ tem dedicado a sua atenção.

Neste espaço aberto à comunidade, “espera-se contribuir para sensibilizar todos e todas para a conservação e proteção do Micobiota, hoje em dia tão ameaçado por mobilizações do solo e processos decorrentes das alterações climáticas” sustém a investigadora em forma de convite, até porque, como recorda “só protege quem conhece, e só conhece quem ama”.

Recorde-se que, entre outras descobertas, Celeste Silva desenvolveu um processo tecnológico para a obtenção de plantas inoculadas visando a produção de túberas lançando as bases para uma nova forma de produção de alimentos com propriedades nutracêuticas e a exploração deste recurso micológico, de uma forma sustentável, resiliente e economicamente rentável.

As túberas são a frutificação hipógea (cogumelos subterrâneos) de fungos micorrízicos que se associam tradicionalmente a raízes de plantas anuais e o desafio de conseguir a associação micorrízica deste fungo com plantas perenes, como o Cistus salviifolius  (sargaço) e Cistus ladanifer (esteva), foi alcançado, permitindo a partir de agora a sua produção em massa para utilização em diversos setores.

Publicado em 14.10.2021
Fonte: GabCom | UÉ