Laboratório HERCULES analisa estado de preservação de obras históricas

Carlo Bottaini, investigador do Laboratório HERCULES (Herança, Cultura, Estudos e Salvaguarda) da Universidade de Évora (UÉ), está atualmente a colaborar num projeto cujo objetivo é analisar em que estado de preservação e de corrosão se encontram obras históricas de Portugal da autoria do escultor Soares dos Reis, tal como é o caso da estátua de D. Afonso Henriques em Guimarães.

Tudo começou em novembro de 2018 quando o CITAR (Centro de Investigação em Ciência e Tecnologia das Artes), uma unidade de investigação da Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa, entrou em contacto com o E-RHIS (Plataforma Portuguesa da Infraestrutura de Investigação Europeia em Ciências do Património) para solicitar a colaboração do Laboratório HERCULES no projeto GEO-SR, cuja finalidade é a de colmatar uma lacuna profunda de conhecimento científico e tecnológico relativamente às componentes materiais, conservativas e simbólicas da escultura geomaterial europeia do seculo XIX, através do estudo de 35 esculturas da autoria de António Soares dos Reis, prestigiado escultor português.

Neste sentido, o papel de Carlo Bottaini tem sido o de colaborar na parte analítica da investigação, tendo procedido à analise da constituição da liga metálica da estátua, mas também das superfícies de corrosão, de modo a descobrir com que tipo de materiais foi construída, o método de fundição de Soares dos Reis e ainda em que ponto de preservação se encontram as obras. No caso da estátua de D. Afonso Henriques já se consegue ter um indício do processo de construção da obra, no entanto, a investigação ainda está em fase embrionária.

Os resultados esperados após a conclusão do projeto permitirão conhecer melhor o estado de conservação das obras, de forma parametrizada objetivamente e aplicando a sustentabilidade tecnológica mediante a aplicação inovadora de técnicas analíticas utilizadas tradicionalmente em edifícios (radiografia, termografia e UPV). Neste sentido, durante este processo de investigação têm sido utilizadas técnicas não invasivas, tentando que não haja uma intervenção direta nas peças, como é o caso da espectroscopia de fluorescência, que permite penetrar a matéria sem ter de retirar uma amostra da mesma.

De forma complementar, também foi realizada uma reconstrução 3D virtual de algumas das esculturas, o que permitirá fazer um seguimento do estado de preservação da obra e observar posteriormente se houve alterações na sua composição, além de também monitorizar o seu estado de conservação com o intuito de planear metodologias futuras de preservação do metal que as constitui.

Visa-se, através deste projeto, definir parâmetros de degradação e fragilidade dos objetos escultóricos, comparando o grau de decaimento dos materiais, em ambiente museológico e no exterior. A informação recolhida será aplicada à elaboração de métodos de avaliação portáteis, não invasivos e mais acessíveis com vista à redefinição de questões éticas e protocolos de conservação, exposição, armazenamento, manuseamento, segurança e transporte destes objetos, com repercussões nas atividades económicas e industriais que fornecem produtos e serviços para estas tarefas, incluindo as seguradoras que as asseguram.

Para já, os resultados ainda são muito preliminares, contudo, espera-se que os dados sejam divulgados em maio deste ano no Congresso ISA 2020 (Simpósio Internacional de Arqueometria), em Lisboa.

A equipa de investigação está a ser liderada pelo CITAR, e conta, como parceiros do projeto, com o Museu Nacional de Soares dos Reis, no Porto,  a Universidade de Aveiro e a Universidade de Braga.

Publicado em 31.01.2020
Fonte: GabCom | UÉ