Carlos A. Braumann, nascido em Lisboa em 1951, é, desde março de 2018, professor catedrático aposentado da Universidade de Évora, tendo ingressado nesta Universidade em 1975 e nela desenvolvido quase toda a sua carreira académica. A última Lição deste professor de matemática decorreu , dia 23 de maio no Colégio do Espírito Santo da Universidade de Évora.
“A Matemática, o Acaso e a Vida” foi o tema escolhido por Carlos A. Braumann justificado, em parte porque, como confidencia, a sua vida “resultou de uma série de acasos e desafios que surgiram sem esperar”, e naturalmente porque a maioria do tempo na UÉ foi dedicado ao estudo das “aplicações da matemática às ciências da vida, e ligações biológicas” encontrando, também aqui, “o acaso”.
“Foi no dia 10 de novembro de 1975, pelas oito horas de uma segunda-feira” a sua primeira aula na Universidade de Évora, momento que Carlos Braumann elege como um dos mais “marcantes” que viveu na Academia, aula que marca igualmente o arranque da restruturada Universidade de Évora - recorda, onde “juntamente com os colegas José Rodrigues Dias e Mercedes Melo, lecionamos a disciplina Matemática I” acrescenta, com o sorriso e a simpatia que o caracteriza.
Para este professor catedrático da UÉ, o mais importante “é servir e dedicar-nos a causas; (…) se estamos neste mundo, temos que o deixar melhor do que o encontramos”. “Não devemos”, como faz questão de referir, “olhar apenas para nós próprios”, concluí com sentimento de dever cumprido.
Questionado sobre as razões pela qual a matemática é tida como uma disciplina “mal-amada” pelos portugueses, (e não só) Carlos Braumann é perentório em afirmar que “um dos grandes problemas é a atitude da sociedade perante a matemática; as crianças são instrumentalizadas para considerar a matemática difícil. Se tal não acontecer, ou se, de alguma forma essa atitude for alterada, não vão achar a matemática difícil, porque de facto não o é”, remata com convicção.
Olhando para o futuro, Carlos Braumann continuará a desenvolver a atividade de investigação no Centro de Investigação em Matemática e Aplicações (CIMA) da Universidade de Évora, que tem por objetivo criar novas ferramentas matemáticas, conceitos e teorias e contribuir para o desenvolvimento do conhecimento matemático e da consciência cultural a diferentes níveis, entre outras atividades ligadas à matemática - afinal lecionou mais de uma trintena de disciplinas de todos os ciclos de ensino nesta Universidade.
Na Universidade de Évora, Carlos Braumann assumiu vários cargos, entre eles o cargo de Reitor, (2010-2014), e Vice-Reitor (1987-94), todos eles, assumidos sem exceção com “dedicação e grande gosto em servir esta instituição”. Foi Presidente do Conselho Científico (1999-2001), Presidente do Conselho do Departamento de Matemática e da Área Departamental de Ciências Exatas (2005-07, 1991) e Diretor do Centro de Investigação em Matemática e Aplicações (1994-99).
Concluiu a licenciatura em Matemática Aplicada na Universidade de Luanda com 18 valores, tendo sido galardoado com o Prémio Rotary Club de Luanda para o licenciado da Universidade com classificação mais elevada; na Universidade de Luanda foi monitor entre 1971 e 1973 e assistente eventual em 1974. Obteve o grau de doutor em 1979 na State University of New York at Stony Brook, onde esteve com uma bolsa da JNICT (1976-79). Fez provas de agregação na Universidade de Évora em 1988.
É membro do Centro de Investigação em Matemática e Aplicações e membro eleito do International Statistical Institute (desde 1991), tendo a sua atividade científica e as suas publicações (das quais 90 foram sujeitas a arbitragem científica) incidido especialmente nas equações diferenciais estocásticas e suas aplicações, particularmente biológicas (dinâmica de populações, pescas, crescimento individual de animais, demografia, etc.) e financeiras. Participou e coordenou projetos de investigação e orientou pós-doutoramentos, teses de doutoramento e de mestrado, trabalhos de fim de curso e estágios.
Foi investigador visitante ou prestou colaboração em várias Universidades nacionais e estrangeiras e em escolas de Verão e foi orador convidado em inúmeras instituições e reuniões científicas nacionais e internacionais. É copresidente da 11th European Conference on Mathematical and Theoretical Biology (a realizar em julho de 2018), presidiu a comissões organizadores de várias reuniões científicas nacionais e internacionais e integrou comissões organizadoras e comissões científicas de muitas outras. Tem, desde 2007, integrado o júri do Reinhart Heinrich Doctoral Thesis Award, concurso internacional anual para a melhor tese de doutoramento na área da Biologia Matemática. É avaliador de variadas revistas científicas internacionais e participou em inúmeros júris de provas e graus académicos.
É perito avaliador da Agência para a Avaliação e Acreditação do Ensino Superior e integra a Mesa da Assembleia Geral do Centro Internacional de Matemática.
Exerceu as funções de Presidente da European Society for Mathematical and Theoretical Biology (2009-12) e da Sociedade Portuguesa de Estatística (2006-12). Foi membro do Conselho Superior de Estatística em representação do CRUP (1989-2002) e membro do CEIES (organismo consultivo para as questões estatísticas do Conselho Europeu e da Comissão Europeia; 2005-2008).