Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública
À conversa com Jorge Araújo

O Professor Jorge Araújo, Reitor durante 12 anos da Universidade de Évora, foi condecorado pelo Presidente da República com a Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública. A distinção aconteceu no âmbito das comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, que decorreu este ano na cidade da Guarda.

A Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública “visa galardoar os serviços prestados por nacionais ou estrangeiros ou por corporações à causa da instrução e todos os atos de benemerência pública que influam no progresso e prosperidade do País.”

A propósito desta distinção, o UEline esteve à conversa com o antigo Reitor da instituição.

 

Vai ser distinguido no dia 10 de Junho com a Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública. O que representa para si esta distinção?

Nunca ninguém é bom juiz em causa própria; portanto, eu tendo olhar para o meu percurso e para o que fiz, mais pelo lado do copo meio vazio do que pelo lado do copo meio cheio. Em todo o caso, presumo que quem tiver proposto o meu nome para receber essa distinção, tenha dado mais valor à metade do copo meio cheio.

Na realidade, eu fui 12 anos Reitor da Universidade de Évora e durante esses 12 anos, naturalmente orgulho-me de ter feito algumas coisas que perduram hoje, que se mostraram indestrutíveis e que contribuem para a projeção da Universidade de Évora no país e no estrangeiro.

Estou convicto de ter atuado segundo uma linha estratégica de promoção da Universidade e ter contribuído para melhorar a instrução pública – é uma Ordem de Instrução Pública! -, portanto, é minha convicção de que alguma coisa terei feito que melhorou a instrução pública em Portugal.

Foi, aliás, devo dizer, nessa perspetiva que eu abandonei uma situação confortável que tinha em Bruxelas, onde vivi 12 anos como refugiado político, para vir para Portugal na sequência da Revolução de 25 de Abril, para dar o meu contributo para o desenvolvimento do país; e tudo decorre, no fundo, dessa minha tomada de decisão, de regressar à Pátria – porque assim o entendo, ainda uso a palavra Pátria -, e dar o meu contributo. Agora, naturalmente que esse contributo, uns tenderão a vê-lo mais consistente, outros tenderão a menosprezá-lo. E eu fico assim pelo meio-termo, porque sei que fiz coisas boas; de certeza, gostaria de ter feito muito mais do que aquelas que fiz.

 

O seu percurso académico é indissociável da Universidade de Évora. Considera que esta distinção é também um pouco da Universidade?

Com certeza. A distinção é da Universidade de Évora. Aliás, fiz questão, logo que recebi formalmente o convite, de comunicá-lo à Sra. Reitora, porque, de facto, ao ser distinguido com esta Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública, eu sou distinguido como ex-Reitor desta Universidade. Essa distinção não me cabe como investigador – também o fui, naturalmente, mas com menos brilho, pelo menos com menos realce público do que como Reitor. E portanto, sendo distinguido como ex-Reitor da Universidade de Évora, naturalmente a Universidade de Évora está associada indiscutivelmente a esta distinção e eu quero muito claramente partilhá-la com a Universidade.

 

Numa fase em que o Ensino Superior atravessa uma fase difícil, sofrendo pesados cortes orçamentais, como vê o futuro das Universidades do interior do país, e em concreto o da Universidade de Évora?

O futuro destas universidades, das pequenas e médias universidades, é um futuro incerto e vai depender da inteligência com que as universidades desenharem as suas estratégias. As universidades inserem-se, em primeiro lugar, numa região com a qual têm naturalmente que dialogar e na qual terão que criar as suas raízes de sustentação. Têm, portanto, que equacionar a sua estratégia no contexto regional; têm de ser regionalistas sem serem regionais.

Mas são também universidades europeias, e nesse aspeto, têm que se conformar e configurar de acordo com as regras europeias e com as normas de qualidade que todas as universidades europeias adotam nos campos do ensino, da investigação e da gestão.

Por outro lado, as universidades portuguesas pertencem a um espaço lusófono muito amplo, no qual o Atlântico ocupa uma posição destacada. É importante que nós tenhamos presente que o Português é uma língua maioritária no hemisfério sul, e, assim sendo, os países lusófonos e as respetivas universidades delimitam um espaço internacional de colaboração muito importante.

Em suma, têm que ser regionalistas porque se têm que debruçar sobre os problemas regionais e sobre o desenvolvimento regional; são europeias pela qualidade do seu desempenho, tendo de adotar as regras e as exigências de qualidade que todas as universidades europeias, nomeadamente aquelas que integram a rede europeia de ensino superior de ciência, adoptam, e depois, a sua projeção mundial tem naturalmente um espaço preferencial, privilegiado, que é o espaço lusófono.

Ora bem, as universidades vivem efetivamente mal – direi mesmo, muito mal, neste contexto orçamental, de crise financeira, política, etc., em que Portugal mergulha -, mas deverão encontrar a sua “salvação” numa leitura atual, numa leitura correta, abrangente, do mundo em que se inserem. Se o fizerem, atingirão os seus objetivos, nomeadamente de atração de novos públicos e a consolidação financeira. Sim, as soluções financeiras só vão surgir neste relacionamento escalonado em três níveis.

 

 

 

 

JS | UELINE

Publicado em 09.06.2014
Fonte: GabCom | UÉ